quarta-feira, 22 de maio de 2013

Não há nada de errado com o planeta (por George Carlin)


Veja, eu não sou uma dessas pessoas que se preocupam com tudo.

Você tem pessoas assim ao seu redor? Os países estão cheios deles agora, pessoas andando durante o dia todo, e estão, a cada minuto do dia, preocupadas com tudo!

Preocupadas com o ar, preocupadas com a água, preocupadas com o solo. Preocupadas com os inseticidas, pesticidas, aditivos nos alimentos, substâncias cancerígenas, preocupadas com o gás radônio, preocupadas com o amianto. Preocupados em salvar espécies ameaçadas de extinção.

Deixe-me te contar sobre espécies ameaçadas de extinção, ok?

Salvar espécies ameaçadas de extinção é apenas mais uma tentativa arrogante dos seres humanos de controlar a natureza! É uma intromissão arrogante!

É o que nos colocou em apuros, para começo de conversa! Ninguém entende isso? Interferir na natureza!

Mais de 90%. Mais! Bem mais de 90% de todas as espécies que já viveram neste planeta se foram, Whsht! Foram extintas. Nós não matamos elas todas. Elas simplesmente desapareceram! Isso é o que a natureza faz! Elas desaparecem a taxa de 25 por dia, e isso não depende de nosso comportamento. Independentemente da forma como agimos neste planeta, 25 espécies que estiveram aqui hoje terão ido amanhã. Deixe-as ir graciosamente! Deixe a natureza em paz! Já não fizemos o suficiente?

Nós nos achamos tão importantes. Tão importantes! Todo mundo está militando para salvar alguma coisa: salve as árvores, salve as abelhas, salve as baleias, salve os caracóis. E a maior arrogância de todas: Salve o planeta.


O que?! Essas pessoas estão de brincadeira? Salvar o planeta? Nós nem sequer sabemos como cuidar de nós mesmos! Ainda não aprendemos a cuidar uns dos outros e vamos querer salvar o planeta? Eu estou ficando cansado dessa porcaria. Cansado dessa porcaria. Cansado!

Estou cansado da porcaria do “Dia da Terra”, estou cansado destes ambientalistas presunçosos; esses burgueses, liberais, brancos que pensam que a única coisa de errado com este país é que não há ciclovias suficientes. Pessoas que tentam tornar o mundo mais seguro para seus Volvos.

Além disso, os ambientalistas não dão a mínima para o planeta. Eles não se preocupam com o planeta. Não como uma finalidade real. Não como uma finalidade real. Vocês sabem no que eles estão interessados? Eles querem um lugar limpo para viver. Seu próprio habitat. Eles temem que algum dia no futuro, eles possam ser incomodados pessoalmente. Interesses próprios, estritos e tacanhos não me impressionam.

Além disso, não há nada de errado com o planeta. Nada de errado com o planeta! O planeta está bem. As pessoas que estão em apuros. Diferença. Diferença!

O planeta vai bem. Em comparação com as pessoas, o planeta está indo muito bem. Está aqui há quatro bilhões e meio de anos.


Você já pensou sobre a aritmética? O planeta está aqui há quatro bilhões e meio de anos. Nós estamos aqui há quanto tempo? Cem mil? Talvez duzentos mil anos? E nós só nos dedicamos à indústria pesada há um pouco mais de 200 anos. Duzentos anos versus quatro bilhões e meio e temos a presunção de pensar que de alguma forma somos uma ameaça? Que de alguma forma vamos colocar em risco esta bela bola azul-esverdeada que fica girando ao redor do sol? O planeta já passou por coisas muito piores que nós. Passou por todos os tipos de coisas piores que nós:

Passou por terremotos, vulcões, placas tectônicas, deriva continental, erupções solares, manchas solares, tempestades geomagnéticas, inversão dos polos magnéticos, centenas de milhares de anos de bombardeamento por cometas e asteroides e meteoros, inundações mundiais, maremotos, incêndios mundiais, erosões, raios cósmicos, eras glaciais recorrentes.. E achamos que alguns sacos plásticos e que algumas latas de alumínio irão fazer alguma diferença?

O planeta... O planeta... o planeta não vai a lugar nenhum. Nós vamos! Nós estamos indo embora. Façam suas malas, pessoal. Estamos indo embora.

E nós nem vamos deixar muitos rastros. Ainda bem. Talvez um pouco de isopor, talvez! Um pouco de poliestireno expandido.

O planeta vai estar aqui muito tempo depois de nós desaparecermos. Só mais uma mutação fracassada! Apenas um “fundo mútuo” biológico errado, um beco-sem-saída evolucionário. O planeta vai nos chacoalhar para fora como se fôssemos uma infestação de pulgas. Nada mais do que um leve incômodo em sua superfície.


Quer notícias do planeta? É só perguntar às pessoas de Pompéia, petrificadas por cinzas e lama vulcânicas. Como o planeta está indo? Mas também pode perguntar àquelas pessoas da Cidade do México ou da Armênia, ou centenas de outras localidades soterradas por milhares de toneladas de destroços de terremotos, se eles perceberam uma ameaça para o planeta na nessa semana. Ou sobre como aquelas pessoas de Kilowaia, no Havaí que construíram suas casas em volta de um vulcão ativo e depois indague a elas do porquê das lavas em suas salas.

O planeta vai estar aqui por muito, muito tempo depois de desaparecermos e ele vai se curar, vai se limpar, pois é isso que ele faz. É um sistema com autocorreção: o ar e a água vão se recuperar, a terra será renovada e se é verdade que o plástico não é degradável, bem, o planeta vai simplesmente incorporar o plástico como um novo paradigma: Terra + plástico!

O planeta não compartilha do nosso preconceito em relação ao plástico. O plástico saiu da terra, a terra provavelmente vê o plástico apenas como mais um de seus filhos.

Pode ter sido a única razão para ela permitir que fôssemos gerados a partir dela, só para começar. Ela queria plástico. Não sabia como conseguir. Não sabia como conseguir. Precisou de nós. Poderia ser a resposta para a nossa velha pergunta filosófica egocêntrica: “por que estamos aqui?” Plástico, seu inútil!

Então, o plástico está aqui, fizemos nosso trabalho, já podemos ser eliminados progressivamente. E eu acho que já começou, não acha? Quero dizer, para ser honesto, é possível que o planeta nos veja como uma leve ameaça, algo para ser lidado e o planeta pode se defender, como qualquer organismo complexo, tal e qual reage uma colônia de abelhas ou um formigueiro quando de frente com uma ameaça. O planeta, com certeza, vai pensa numa saída. O que você faria se fosse o planeta precisando se livrar de “uma traste incômoda e encrenqueira”? Vejamos...


O que seria? Vírus! Vírus parece ser bom. Eles parecem vulneráveis a vírus e os vírus parecem ardilosos, sempre sofrendo mutações e criando novas linhagens, sempre que uma nova vacina é desenvolvida. Talvez o primeiro vírus possa ser um que enfraqueça o sistema imunológico dessas criaturas. Talvez um vírus da imunodeficiência, que os tornaria vulneráveis a outras infecções e doenças oportunistas. Poderia se espalhar sexualmente, o que frearia um pouco sua participação no ato de reprodução.

Bem, essa é a parte poética. E é um começo. Eu posso sonhar, né?

Então, eu não me preocupo com coisas pequenas: abelhas, árvores, baleias, caracóis... eu penso que fazermos parte de uma sabedoria maior que nunca iremos entender. Uma ordem superior, chame como quiser, eu chamo de “grande elétron”. Wow! Wow! Wow! Ele não pune, não recompensa e também não julga. Ele apenas existe, como nós, mas também por pouco tempo.

Obrigado por passarem um tempo aqui comigo nesta noite! Se cuidem, mas cuidem de alguém.

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